O Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM) viveu, neste sábado (9), uma noite de forte emoção, memória e música. Em cerimônia aberta ao público, o espaço externo do museu, antes conhecido como Praça do Pôr do Sol, passou a se chamar oficialmente Praça Maestro Letieres dos Santos Leite, homenagem a um dos maiores nomes da música instrumental baiana.

A solenidade antecedeu a tradicional Jam no MAM, que reuniu apresentações da Orkestra Rumpilezz, criada por Letieres, e da banda Geleia Solar. Gratuito, o evento teve os ingressos esgotados em menos de 24 horas pela plataforma Ingresse.

A homenagem foi instituída pela Lei 14.691/2024, de autoria da deputada estadual Olívia Santana e sancionada pelo governador Jerônimo Rodrigues. Com apoio do Governo da Bahia, por meio da Secretaria de Cultura do Estado (Secult-BA) e do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), o ato contou com a presença do secretário de Cultura, Bruno Monteiro; do diretor-geral do Ipac, Marcelo Lemos; da diretora do MAM, Marília Gil; da deputada Olívia Santana; além de familiares, amigos e admiradores do maestro.

A placa com o novo nome foi descerrada em clima de emoção. A irmã de Letieres, Líris Leitieres, descreveu o MAM como a “segunda casa” do maestro. “Para nós e, certamente, para ele também, esta homenagem é como voltar para casa. Este local é um território de luta e resistência da música instrumental. Era um lugar onde ele se realizava, onde ele era feliz. Sempre foi o sonho dele trazer a música afrodiaspórica para este lugar e ele conseguiu realizar”, afirmou.

A mãe de Letieres, Maria do Carmo Santos Leite, participou pela primeira vez de uma homenagem ao filho desde a sua partida e fez questão de usar um anel de Xangô que ele sempre carregava. “Estou achando essa homenagem muito linda, é uma emoção muito grande para nós. Ele era muito feliz neste local”, contou, emocionada.

O palco foi tomado pela Orkestra Rumpilezz em formação de 18 músicos, com um repertório que uniu composições originais do maestro a releituras de outros artistas, reafirmando a fusão singular entre percussão afro-baiana e jazz contemporâneo. A noite seguiu com a energia contagiante da Geleia Solar, anfitriã da Jam há 26 anos, mantendo viva a tradição de mesclar standards do jazz mundial a ritmos afro-baianos em clima de improviso e liberdade musical.

Para o secretário Bruno Monteiro, a homenagem carrega um valor simbólico profundo: “A cultura é feita de símbolos e da preservação de nomes, de histórias, de identidades. O maestro Letieres deu uma contribuição ímpar para a música da Bahia com toda sua capacidade de agregar, com a sua inventividade, com os projetos inovadores que trouxe. Eternizá-lo nesse espaço em que tantas vezes se apresentou é construir um símbolo muito importante, que significa que ele estará sempre presente para as atuais e futuras gerações que passarem por este espaço”.

O diretor-geral do Ipac, Marcelo Lemos, reforçou que a cultura se preserva nas pessoas e nas memórias vivas: “A música é um patrimônio vivo que carrega a identidade e a história do nosso povo. Ao dar a este espaço o nome de Letieres Leite, reafirmamos que a cultura não se preserva apenas nos prédios e monumentos, mas também nas pessoas, nos saberes e nos sons que moldam a nossa memória coletiva”.

Para a deputada Olívia Santana, ver a lei de sua autoria ser materializada é motivo de orgulho: “É uma satisfação muito grande ver esta lei se concretizar. Estou com o coração aquecido porque este é o ambiente de Letieres. É muito óbvio que esse espaço ganhe o nome dele: é uma questão de justiça, reparação, a coroação de uma história de vida e de um legado de trabalho”.

Legado – Falecido em outubro de 2021, vítima da covid-19, Letieres Leite foi compositor, arranjador, multi-instrumentista e educador musical. Reconhecido nacional e internacionalmente, destacou-se por pesquisas pioneiras sobre a música afro-baiana e pela criação do método UPB (Universo Percussivo Baiano), que sistematiza toques, ritmos e tradições da percussão de matriz africana presentes na Bahia. Fundador da Orkestra Rumpilezz, projetou a música percussiva baiana para o mundo, unindo tradição e inovação.

Além do talento como músico, dedicou-se à formação de novos artistas. Atuou como coordenador artístico pedagógico do Curso de Música do Centro de Formação em Artes da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) e esteve à frente, por mais de 10 anos, de projetos como o Programa de Qualificação de Música, o Laboratório de Música Popular e o Curso Preparatório de Música da Funceb.

O clarinetista Ivan Sacerdote, amigo e parceiro musical, lembrou o papel de Letieres na sua trajetória: “Leitieres conseguiu mostrar a nós, instrumentistas, os mais diversos caminhos que a música baiana poderia seguir. Ele me acompanhou desde muito jovem, produziu o meu primeiro disco. Minha carreira tem muito de Leitieres”.

Foto: Reprodução/ Caio Diniz

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