O Senado sediou o Seminário Democracia em perspectiva na América Latina e no Brasil. O evento foi promovido pelo Conselho Editorial, presidido pelo senador Randolfe Rodrigues, do PT do Amapá.
Na abertura, Randolfe fez o lançamento completo da Coleção história da Ditadura – democracia, ontem, hoje e sempre, organizada pela historiadora Heloisa Starling, e composta por quatro livros, três deles já lançados em abril.
Essa coletânea tem o objetivo do seu título. Dizer que regimes autoritários, por mais que ameaçam a estabilidade democrática, eles não podem perdurar para sempre. E que a democracia é a maior conquista civilizacional. A democracia, ontem, hoje e sempre.
O palestrante convidado, Steven Levitsky é um cientista político americano, e um dos autores do livro Como as democracias morrem. Na palestra, ele reafirmou alguns pontos defendidos no livro como a necessidade de reforçar as instituições públicas para combater regimes autoritários, fortalecimento de partidos políticas, liberdade de opinião e uma sociedade civil atuante no combate às iniciativas anti-democráticas.
Apesar de reconhecer a resiliência na democracia da América Latina, Levtisky vê no populismo uma possível ameaça aos regimes democráticos e aponta a frustração do eleitor como uma das causas pela escolha de candidatos com esse perfil.
“The demand side for populism is very real. Discontent is undeniable. But public discontent isn’t new in Latin America. So I don’t think it’s the only thing fueling the recent wave of populism. What’s new in Latin America isn’t the demand for populism. It’s changes on the supply side of populism. It is much easier to be a populist today than it was 50 years ago. And that’s because political establishments are weakening across the globe..”
(A demanda por populismo é muito real. O descontentamento é inegável. Mas o descontentamento público não é novidade na América Latina. Portanto, não acho que seja a única coisa que alimenta a recente onda de populismo. O que há de novo na América Latina não é a demanda por populismo. São mudanças no lado da oferta de populismo. É muito mais fácil ser populista hoje do que há 50 anos. E isso porque o establishment político está se enfraquecendo em todo o mundo.)
Steven Levitsky elogiou a democracia brasileira, reconheceu o esforço institucional para combater as chamadas fake News, mas deixou um alerta ao final de sua fala. De que as democracias só vão existir se forem defendidas.
“Democracy cannot defend itself. It can’t be defended passively from the sidelines. If politicians, if judges, if civil society do not aggressively confront authoritarian threats, even rich, established democracies can die. That is the tragic lesson that Americans are learning today and it’s a lesson that Brazilians would do well to remember.”
(A democracia não pode se defender. Não pode ser defendida passivamente, à margem. Se os políticos, os juízes e a sociedade civil não confrontarem agressivamente as ameaças autoritárias, até mesmo democracias ricas e consolidadas podem perecer.)
Também participaram da mesa de abertura os senadores Humberto Costa, do PT de Pernambuco, e a deputada federal Tábata Amaral, do PSB de São Paulo. A coleção História da Ditadura – democracia, ontem, hoje e sempre, editada pelo Conselho Editorial, está à venda na livraria do Senado.
Foto: Marcos Oliveira /Agência Senado