Nos últimos seis anos, o número de postagens com informações falsas sobre o Transtorno do Espectro Autista cresceu 15.000% em grupos do aplicativo Telegram na América Latina. O Brasil concentra quase metade desse conteúdo. São mais de 22 mil publicações enganosas, que tiveram 14 milhões de visualizações.
Os dados são de um estudo da Fundação Getulio Vargas em parceria com a associação Autistas Brasil. Os pesquisadores identificaram teorias infundadas que associam o autismo a vacinas, redes 5G e até alimentos industrializados. Também foram mapeadas falsas curas, muitas vezes comercializadas por influenciadores que exploram a vulnerabilidade emocional das famílias.
Para enfrentar esse cenário de desinformação, o Senado deverá criar a a Frente Parlamentar Mista da Inteligência Artificial, Tecnologia da Informação, Segurança Cibernética e Combate à Desinformação, a chamada Frente Parlamentar da Segurança Digital.
O colegiado vai debater estratégias de regulação, educação digital e responsabilização de quem lucra com conteúdos prejudiciais nas redes.
Para o autor da iniciativa, senador Angelo Coronel, do PSD da Bahia, é preciso garantir a liberdade de expressão sem abrir espaço para ataques anônimos e desinformação deliberada.
Muitas vezes, as pessoas se revestem em um perfil anônimo para começar a falar mal do seu alvo, com calúnias, difamação, isso não é permitido. Eu acho que aqueles que querem criticar alguém, que critiquem mostrando o seu CPF, mostrando a sua cara.”
A especialista Daniela Freitas, que é autista e atua com Análise do Comportamento Aplicada, defende a difusão de informação de qualidade sobre o transtorno como forma de combater o preconceito e as narrativas falsas.
“Temos três grandes barreiras para desmistificar o autismo. Essas barreiras são: levar a informação sobre o autismo. As pessoas se interessarem. Então, vocês veem que está cada vez aumentando mais na internet, os autistas estão se colocando ali à disposição, trazendo conteúdos que são informativos, e que as pessoas vivenciem isso. Elas entendam essas peculiaridades, entendam como nos ajudar para que a gente vá formando uma sociedade melhor, mais inclusiva, menos capacitista.”
O Telegram não se manifestou sobre o estudo e o projeto da Frente Parlamentar ainda será votado.
No Brasil, cerca de 5 milhões e meio de pessoas foram diagnosticadas com esse transtorno, de acordo com a Associação Nacional para Inclusão das Pessoas Autistas.
Foto: Andressa Anholete/Agência Senado